2/11/2012

HISTÓRIA E LITERATURA



Em todos os tempos sempre ocorreu uma estreita ligação entre Literatura e História, constatada se não pela produção e análise de textos, mas pela leitura das relações sociais e artísticas que traçam o perfil dos povos. O século XVIII, no Brasil, é um perfeito exemplo desse entrelaçamento também com as outras artes.

A escola de arte denominada Barroco que se desenvolveu no século XVII no Ocidente, no Brasil, devido a uma natural e compreensível defasagem cultural – o ‘descobrimento’ ocorreu no século XVI, portanto apenas 100 anos antes –, teve poucos representantes, mas avançou pelo Setecentos, em parte, devido à descoberta do ouro em Minas Gerais.

Estimulados pela nova mercadoria que substituíra a cana-de-açúcar do Nordeste, massas de pessoas – negociantes, artesãos, escravos, famílias inteiras – se deslocaram para o Sudeste em busca do enriquecimento.

O Barroco que florescia na literatura e na música agora ganhava novas artes: a arquitetura das igrejas e a escultura e a pintura de anjos e santos. Embora todo esse movimento objetivasse, do lado da Igreja, apenas a “monumentalização da espiritualidade divina” (SALLES, 2007, p. 19), não se pode negar o que se propiciou de progresso para as artes e para o ambiente social.

Mas tudo isso não ocorreu tão naturalmente. Parte das riquezas que não eram levadas para Portugal, aqui eram encaminhadas às chamadas Associações Religiosas, que, se notabilizando por uma impressionante organização administrativa, fizeram construir os monumentos religiosos que hoje formam o acervo das cidades históricas mineiras.

Essas entidades também aplicavam o dinheiro na contratação de artistas – daí o surgimento de gênios como Aleijadinho e mestre Ataíde –, de centenas de artesãos, e ainda supervisionavam o trabalho e escolhiam os locais das edificações. Guardadas as proporções, aconteceu, na época, o florescimento das artes naquela região de Minas Gerais.

O nascimento e a história desse momento cultural são contados em As associações religiosas no ciclo do ouro, de Fritz Teixeira de Salles (Perspectiva/Museu da Inconfidência, 2007), um clássico reeditado recentemente. Rico em reproduções fotográficas, o livro tem apresentações de especialistas no assunto, os escritores Rui Mourão, Caio Boschi e Cristina Ávila, e sua leitura é recomendada especialmente a interessados e estudiosos do Barroco brasileiro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Joaquim,
Nunca entendi muito porque a Igreja, "em nome de Deus" sempre tentou interferir em tudo. Não estou negando a fé humana, mas o controle e o exercício da força em nome do sagrado. Ergue a bandeira dos pobres e menos favorecidos, ostentando desde a riqueza do Vaticano, até os ricos Templos do Velho Mundo.

Assim como não consigo entender porque o domínio é tão inerente ao Homo sapience (?!). Que necessidade é essa, tão obsessiva, pelo poder?!! Seria apenas porque o mais forte sobrepuja o mais fraco? Mais que mistério existe em sobrepujar? Você pode me explicar isso?

Este tema já foi palco de muitas discussões com um amigo, filósofo e grego (parece mitológico, mas é fato! esse meu amigo existe). Viveu no Brasil entre as décadas de 60 e 70, hoje vive na Austrália. É uma pessoa como você, muito interessante, que vale a pena desbravar. Entre nós, muitos argumentos, várias definições, mas não me convenceu...
Angela Nair