3/02/2014

PEQUENA HISTÓRIA DO LIVRO

A história do livro e das bibliotecas se confunde com a história da liberdade do homem. É um longo relato que precisaria de muitos volumes para ser contado. No entanto Luciano Canfora, em pouco mais de 100 páginas conseguiu reunir em 8 capítulos uma série de informações preciosas que validam inteiramente aquele surrado provérbio dos “pequenos frascos que contêm...etc. etc.”.

Livro e liberdade (Ateliê Editorial e Casa da Palavra, 2002, 104 p.) nos dá, após a leitura, a sensação de prazer que toda pesquisa deveria levar ao leitor, além do conhecimento.

Recorda-se com ele a obsessão de Dom Quixote em se envolver com os livros de cavalaria e depois em aventuras, influenciado pela “projeção do mundo livresco sobre o mundo real” (p. 19); as fogueiras e mortes na época da Inquisição; os antigos textos de Luciano de Samósata que contam o caso da “epidemia” que tomou conta dos espectadores após a apresentação da peça Andrômeda, por terem-na fixado demais em suas mentes; a descoberta da verdadeira identidade de Shakespeare por meio do exame de um exemplar da Bíblia deixado pelo bardo inglês e que chegou às mãos de seus biógrafos.

Mas o capítulo mais interessante é o que narra fatos relativos ao Iluminismo francês, e às figuras dos enciclopedistas Diderot e D´Alembert. Deliciamo-nos quando o autor invoca acontecimentos da época da Encyclopédie, em especial alguns que envolveram sua confecção e publicação.

O personagem de Cervantes, as perseguições a Galileu e a Giordano Bruno, o Ancien Régime e a Revolução, a censura, a queima de livros e muitos outros estão nas páginas deste livro que vai interessar ao público em geral.
Há um capítulo em que o escritor Bertolt Brecht, em poema escrito no exílio, fala da raiva de um autor ao saber que os nazistas se ‘esqueceram’ de suas obras na fogueira de livros promovida por Hitler em 1933:

“Corre à escrivaninha, cheio de ira, e escreve aos poderosos uma carta.
Queimem-me!, rabiscou, queimem-me!
Não me fizessem semelhante ofensa!
Não me deixassem de fora! Pois a verdade, eu não a disse sempre nos meus livros?
E agora me tratam com se fosse um mentiroso! Ordeno-lhes! Queimem-me!” (p. 61)

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