3/10/2015

VOZ FEMININA QUE VEM DO MAR


A associação com o mar e seus elementos – território feminino por excelência – é parte dos recursos utilizados pelos poetas em todos os tempos.

No caso da poesia, então a ligação se faz mais acentuada.

É o que acontece no pequeno volume de poemas de Leila Brito intitulado "Mulher Sereia".

Enriquecidas pela participação gráfico-visual de Floricene Rezende e capa de Filipe Araújo, as 70 páginas do livro trazem poemas curtos e bem trabalhados pela autora, nas 3 partes em que se divide a obra: a Mulher, a Sereia e o Mar.

Na 1ª seção, ocorre um forte subjetivismo lírico em quase todas as peças. Destaco como mais bem realizados: "Correntes", "Enredo", "Raiz" e escolho uma estrofe de "Eleanora":

"Seu olhar
metálico
estático
lembra a aridez de desertos
ausentes de miragens." (p. 25)

"Euclidiana", "História", "Gemínus" são poemas da 2ª parte da qual assinalo a primeira estrofe de "Fado":

"Não sei se encanto
ou a voz de um canto
ou o vento ventando
noite e silêncio." (p. 42)

Leila Brito reserva para o final os poemas com melhor estrutura de linguagem e realização, quando reduz parte do componente subjetivista e surgem em cores realistas as descrições da natureza e do seu intimismo, o que proporciona ao leitor uma poesia mais sugestiva pelos recursos qualitativos empregados: o aproveitamento de uma plasticidade dosada pela criação de imagens mais secas, e no entanto igualmente poéticas. Vamos encontrar aí "Amanhecer", "Litorâneo", "Borboleta", "Belo Horizonte", "Vila Velha" e "Barra do Riacho".

A autora nos proporciona uma boa surpresa para a contracapa do livro, onde reproduz um poema visual habilidosamente construído com uma mistura de palavras de línguas diferentes.

De todos, opto, para transcrição integral, pelo sintético e significativo "Anoitecer":

"Cai
A
Noite
Em
Vertical

estirada no ar a claridade parece se entregar." (p. 57)

3 comentários:

Leila Brito disse...

Caro Professor Joaquim...

Honrada pela distinção literária, agradeço-lhe por sua atenção especial com esta obra nascida das entranhas do meu amor pela poesia, fazendo arrebentar ondas de alegria no mar da Mulher que sou e da Sereia que me habita.

Abraço,
Leila

Joaquim Branco disse...

Cara Leila,
não faço favor quando emito um juízo critico sobre uma determinada obra.
Você mereceu todas considerações feitas.
Abraço,
jb

Anônimo disse...

Quem entende, comente, quem não entende, contente .