5/05/2015

PERFIL DOS "VERDES" - Cataguases 1927 - (6) GUILHERMINO CESAR



GUILHERMINO CESAR - Guilhermino Cesar de Oliveira nasceu em Eugenópolis (MG), em 1908, vindo em 1920 para Cataguases. Mudou-se ainda jovem para Porto Alegre(RS) e fez carreira como professor de literatura na UFRGS. Quando esteve lecionando na Universidade de Coimbra, Portugal, fundou o Curso de Letras lá. Foi poeta, professor, crítico e ficcionista.
Obras: Meia Pataca (1928, poesia, em comum com Francisco Inácio Peixoto), Sul (romance), História da literatura do Rio Grande Sul (1971), Lira coimbrã e Portulano de Lisboa (1965, poesia), Arte de matar (1969, poesia), Sistema do imperfeito & outros poemas (1977, poesia) e muitos outros. Morreu em Porto Alegre, em 1993.




MEIA-PATACA

O conquistador chegou cansado
e batizou com o ouro da cobiça
a terra que lhe prometia
um punhado de coisas tentadoras
MEIA-PATACA!

Vieram mais gentes
porém não havia mais ouro
no rio de águas feias.
Vieram outras gentes.
Cataguases... a cidade cresceu.
O Pomba tem barcos de nome estrangeiro
brincando no dorso barrento.
O Meia-Pataca ficou desdeixado
pobre riozinho que se esconde
e passa de longe medroso.

– Olhando o rio esquecido
eu penso no ouro que sumiu
e no ouro que ficou pra sempre
no coração da minha gente.


Caricatura criada por Maria Antônia Rodrigues para o Arquivo Joaquim Branco.


VIAGEM

O destino? Cataguases.
Quero depressa chegar.
O motivo da viagem
não é segredo nenhum,
virá nas folhas de cá:
- Embarco pra Cataguases,
que lá me vão enterrar.

Por favor, façam depressa
o transporte para o chão
do meu corpo e seu fedor.
Não deixem pelo caminho
mazelas que foram minhas,
herói de infeliz amor.

Me arquivem logo no chão,
no frio barro vermelho
do outro lado do rio,
um pouco depois da ponte
(com licença do Ouvidor).

Cubram, idem, o monturo
com pedra, areia e cimento,
mas não deixem nenhum brilho,
nenhum sinal exterior
que inda aos pássaros engane,
que a visitas e coveiros,
jornalistas e parentes
recorde o silêncio escuro
em que dormindo me fique.

Depois, me larguem, me olvidem.
Que eu seja bem digerido
pelo chão de Cataguases,
reino de Minas, Brasil.


Guilhermino, Ascânio e Chico Peixoto, jovens numa praça.


Ilustração do pintor Di Carrara para o Arquivo Joaquim Branco.


Na Universidade de Coimbra com o filho e a esposa.


Com a esposa e o filho.


Em sua biblioteca em Porto Alegre RS.


O velho e grande poeta Guilhermino Cesar.

(as fotos e desenhos são do Arquivo Joaquim Branco e do álbum de família do autor).




Nenhum comentário: