9/08/2016

O CONTO





O CONTO: pequenas variações no tempo e no espaço

Joaquim Branco

Etimologicamente a palavra “contar” vem do latim “computare”, e, na acepção de contar uma estória, reporta-se inicialmente à narração oral.

Somente muito tempo depois, com a invenção da escrita, aos poucos, foi surgindo o conto (literário) como se conhece hoje.

Em tempos remotos, a poesia era muito mais praticada e apreciada, pois, contendo em si características de cadência, ritmo e musicalidade, podia e pode ser facilmente memorizada. Não dependendo do registro escrito, a poesia se popularizou nas praças, salões da aristocracia, nas reuniões de família e em outros ambientes.

Por outro lado, diferente do simples relato que deve reproduzir um fato acontecido, o conto (como o romance) não tem compromisso com a verdade, pois ele basicamente é “ficção” (do vocábulo latino "fictio", que significa “fingimento”, ou mais concretamente “mentira”). Portanto, aquele dito popular “quem conta um conto aumenta um ponto” tem tudo a ver com o ficcional, pois este está ligado à subjetividade e à individualidade de cada “autor”.

Cultivado desde a Antiguidade por todos os povos, o conto conheceu na Grécia o lado maravilhoso da Mitologia, e no Oriente o fascínio do qual temos como exemplo mais famoso as estórias de "As mil e uma noites".

O prestígio artístico e a popularidade deste tipo de narrativa só se consolidaram a partir do século XIX com o surgimento de grandes mestres da narrativa curta como Maupassant, Tchecov, Machado de Assis, Flaubert, Dostoievski, Swift e no século seguinte Kafka, Hemingway, Fitzgerald, Joyce, Borges, Katherine Mansfield, Camus.

Pode-se conhecer muito sobre o conto com a leitura do livro intitulado "Teoria do Conto", de Nádia Battella Gotlib (Editora Ática). Num pequeno volume de 95 páginas, a professora da USP nos faz navegar por vários tópicos importantes como a história do próprio conto, o maravilhoso, o gênero, o enredo, a construção e os autores que deram a esse tipo de narrativa um grau de excelência.

(A foto é do ficcionista franco-argelino Alberto Camus, um dos maiores nomes na literatura do século XX)

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